A razão é simples. O mercado brasileiro de clubes é muito dependente das receitas de TV e das vendas de jogadores. Embora os times sejam gigantes nas redes sociais, pouco dinheiro ainda geram no digital.
De uma forma simplificada, eles postam nas redes sociais, mas todo o lucro fica com o Facebook, Instagram, Twitter e YouTube.
Os clubes brasileiros têm mais de 160 milhões de seguidores nas redes sociais. Em 2020, as receitas de consumidores vindas do digital somaram US$ 180 bilhões no mundo. Quanto seu time de coração abocanhou disso?
Ativos digitais são propriedades dos times, que podem gerar receitas no mundo digital. Hoje em dia há muitas oportunidade no universo online, que vão da construção de marcas à expansão para o mercado internacional.
Segundo a Sports Value, as receitas com ativos digitais podem superar as de patrocínios dos times. A análise considera o potencial de receita anual explorando as redes sociais e outros ativos como fan tokens, NFTs, APP próprio e publicidade online.
As receitas são ilimitadas, dadas as características do modelo de negócio do mundo digital. A dimensão é gigantesca, o mercado consumidor infinitamente maior que o número de sócios ou público nos estádios. O esporte no ambiente digital tem uma dimensão muito maior do que outros setores.
Paixão, sentimento de pertencimento, propósito, tradição, grandes ídolos, história e tudo o que circunda o futebol são os combustíveis para esse novo mundo de oportunidades.
O potencial de receitas anuais dos ativos digitais dos Top 20 times do Brasil é de R$ 860 milhões. Os patrocínios em 2020 foram de R$ 535 milhões.(Aqui é possível ver os dados dos times em 2020)
Potencial de receitas anuais – Ativos Digitais-R$ milhões
Redes Sociais
Os clubes, como citado anteriormente, têm milhões de fãs nas redes sociais. Mas praticamente todo o dinheiro gerado fica com as redes sociais, que faturam bilhões de dólares com os dados por meio de publicidade.
Há inúmeros caminhos para que os times faturem altas quantias em suas redes. Utilizar a audiência para vender produtos, aumentar número de sócios, alavancar receitas com marketing de conteúdo exclusivo são alguns dos caminhos.
O Flamengo, por exemplo, gera 18 milhões de views a cada mês em seu canal do YouTube. No fim de um ano recebe US$ 400 mil por isso. Segundo cálculos da Sports Value, o valor potencial com seu canal pode passar de US$ 9 milhões por ano.
Utilizar as redes sociais para alavancar receitas é fundamental para os times. Não faz sentido não monetizarem as bilhões de interações geradas com o torcedor.
Fan tokens
Um dos ativos digitais mais famosos são os fan tokens, que utilizam tecnologia blockchain. Os clubes brasileiros já entraram nesse mundo, com o sucesso da emissão dos tokens do Atlético Mineiro e do Corinthians com a Socios.com (plataforma global).
A estratégia foi oferecer por US$ 2 cada token e cada emissão teve 850 mil tokens, um valor bruto gerado de US$ 1,7 milhão. O clube recebe uma parcela do valor, convertida na moeda do Socios.com, a $CHZ.
O torcedor que adquiriu o fan token fica com este ativo, e tem direito a participar de algumas decisões. No caso do Atlético Mineiro, os donos do ativo escolheram a música no estádio, nome do ônibus e modelo da faixa do capitão.
Para o ativo se valorizar depende de vários fatores. E ele pode nunca subir ao ponto de virar um ativo financeiro. Toda a operação é do Sócios.com e os dados ficam com a plataforma que também oferece prêmios, promoções e experiências para o fã.
NFTs
Os NFTs (non-fungible tokens), ou tokens não fungíveis, são ativos digitais que explodiram no mundo. É a conversão de algo real em um criptoativo. Sempre com garantia de autenticidade e rastreabilidade, inerentes à tecnologia blockchain.
No esporte, pode ser uma obra de arte criada a partir de uma jogada, uma foto, um vídeo de uma jogada, ou cards colecionáveis. Cada clube pode alavancar suas receitas explorando sua história, ídolos, títulos, gols, defesas. Não há limites para a imaginação.
O Atlético Mineiro, por exemplo, vendeu por US$ 5 mil a obra de arte da defesa do goleiro Vítor na Libertadores de 2013. A comercialização se deu na plataforma Footcoin.
Uma das mais famosas plataformas de NFTs de futebol é a francesa Sorare, que acaba de ser avaliada em US$ 4,3 bilhões, após rodada de investimento liderada pelo Softbank, que injetou US$ 680 milhões na empresa (a brasileira Go4it Capital, holding de investimentos de Marc Lemann e Cesar Villares, investe também na empresa).
A plataforma movimentou US$ 150 milhões no primeiro semestre deste ano. Um NFT do Cristiano Ronaldo, por exemplo, foi comercializado na Sorare por US$ 250 mil. A Sorare, no entanto, fica com a maior parte das receitas. Por isso, é sempre importante estudar alternativas.
A NBA, por exemplo, criou sua própria plataforma de NFTs chamada NBA Top Shot a fim de controlar essas receitas. Com isso, já movimentou US$ 230 milhões e vai crescer muito nos próximos anos.
O mercado global de NFTs movimentou, nos primeiros seis meses de 2021, US$ 2,5 bilhões em vendas. Os dados incluem todos os tipos de ativos, como artes, música, entretenimento e esportes.
Tokens mecanismo de solidariedade
Outro formato de token é o ligado ao mecanismo de solidariedade que os clubes têm direitos em futuras negociações de jogadores formados na categoria de base do time.
O modelo digital foi permitido pela FIFA e foge completamente da estratégia de fan engagement dos exemplos citados acima.
Depende de fatores incontroláveis, como futuras transferências, se os jogadores vão performar, se vão se contundir ou se o investidor vai receber de clubes mal geridos. O Vasco levantou R$ 10 milhões com este formato de token. O Cruzeiro, R$ 1,5 milhão. Mas o potencial é infinitamente inferior aos tokens associados ao fan engagement.
*Amir Somoggi é sócio-diretor da Sports Value e tem mais de 20 anos de experiência na indústria do esporte, com projetos realizados para diferentes clubes, patrocinadores, agências e empresas investidoras