Se em agosto alguém perguntasse à empresária Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, o que ela estava esperando para a economia quando a pandemia acabasse, ela daria uma resposta otimista. Os setores mais afetados, como restaurantes e turismo, viveriam dias de glória novamente e o consumo voltaria com tudo, acreditava Luiza.
De lá para cá, porém, a cabeça da empresária mudou. E o motivo é a inflação, que em setembro atingiu 1,16%, o maior nível para o mês desde o Plano Real, e fez o resultado acumulado em 12 meses superar a casa dos 10%, algo que não ocorria desde 2016.
“Com o aumento da inflação, que está em todos os países, não só no Brasil, estamos tendo de aumentar juros, e isso acaba com o consumo, que acaba com o emprego”, lamentou a empresária, durante sua participação em evento do BTG Pactual, na manhã desta quinta-feira, 21 de outubro.
No evento, Luiza propôs um pacto aos empresários, para que os preços dos produtos não sejam elevados e, assim, a inflação se mantenha controlada, sem necessidade de o Banco Central (BC) elevar os juros.
A Selic, que chegou a cair a 2% ao ano durante a pandemia, tem subido em 2021 e já está em 6,25%. No mercado, alguns analistas estimam que a taxa de juros básica pode ir além de 9%. “Toda vez que o BC aumenta juros, diminui o crédito. Temos de nos unir, parar de brigar e ter um projeto.”
Na visão da empresária, o novo auxílio proposto pelo governo, de R$ 400 mensais até o fim do ano que vem, deve ajudar a economia, mas não é suficiente. “País em desenvolvimento vive de renda e crédito, e a nossa renda vem de emprego. Precisamos de um pacote emergencial, porque não vai sair reforma agora. Em ano eleitoral, não sai reforma.”
Embora tenha dito que o auxílio ajuda a economia, a empresária alertou que é “preciso ver de onde sai o dinheiro”, uma vez que o Brasil vive um cenário de crise fiscal.
Uma das vozes empresariais que mais se envolvem no debate público, Luiza negou que esteja com planos de se lançar candidata à presidente em 2022. “Estão dizendo que estou me preparando para ser vice de Lula ou de não sei de quem, mas eu não vou sair a nada, nem a presidente, (nem) a vice, a nada”, afirmou.
A empresária, porém, se vê como uma pessoa política, que participa da vida do País, em discussões sobre políticas públicas, e lembrou que há oito anos tem trabalhado no grupo Mulheres do Brasil, que conta com 97 mil membros e quer chegar à marca de 100 mil.
“Uma das nossas propostas é ter 50% de mulheres nas cadeiras da Câmara e do Senado”, afirma a empresária, que defende uma maior participação da sociedade civil na arena política. “Não sou de esquerda nem de direita nem de centro, eu quero ter projeto, como tivemos no projeto Unidos pela Vacina”, disse.
Em abril, a empresária lançou uma frente que reuniu 400 empresários para acelerar a vacinação contra a covid-19 no Brasil. Foram arrecadados R$ 50 milhões, que foram doados ao Sistema Único de Saúde (SUS) para ajudar com equipamentos.