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Acabou a exuberância dos IPOs? Nessa janela na bolsa, é o que parece

13 de abril de 2021 - 09:01

Ralphe Manzoni Jr.

A Dasa captou R$ 3,8 bilhões em seu re-IPO, quase R$ 2 bilhões a menos do que o previsto. Ao mesmo tempo, a LG Informática interrompeu sua abertura de capital por 60 dias. Desde o início do ano, 18 empresas desistiram de se tornarem públicas. Mas há ainda mais de 40 delas na fila da B3. Quantas vão conseguir seguir adiante?

Na mesma noite, a LG Informática, empresa que desenvolve software de gestão para recursos humanos, um dos ativos tech que estavam na fila dos IPOs da B3, iria precificar sua oferta, mas interrompeu sua abertura de capital por até 60 dias. A meta era captar mais de R$ 800 milhões. Como disse um executivo de um banco de investimento que atuou na oferta: “As condições de mercado se deterioram muito.” E complementou: “Os investidores estão preocupados em tomar risco.”

Esses dois casos são sinais de que a exuberância de aberturas de capital e de ofertas subsequentes de ações, que já movimentaram mais de R$ 30 bilhões em 2021, por enquanto, ficou para trás. A janela de IPOs não está fechada, como disseram diversas fontes com quem o NeoFeed conversou. Mas, a partir de agora, as empresas que quiserem seguir adiante com um IPO vão ter de aceitar um desconto pelo ativo e enfrentar investidores menos dispostos a “comprar riscos”.

“O mercado está muito seletivo”, diz o executivo de uma empresa que desistiu de abrir o capital na atual janela. “O resumo é esse: quem quiser seguir adiante, vai ter de reprecificar. Do contrário, não resta alternativa, a não ser pausar.”

Pelo menos 18 empresas já desistiram oficialmente de abrir o capital em 2021. São nomes como Kalunga, Tok&Stok, Agrogalaxy, Granbio Investimentos, Rodobens, Kallas Incorporações, Farmácias Nissei, entre outros.

Os próximos dias serão decisivos para testar o humor dos investidores – e saber o quanto ele azedou. A Blau Farmacêutica, a distribuidora de produtos de tecnologia Allied e a CM Hospitalar (Viveo) devem precificar suas ofertas nesta semana. Se conseguirem seguir adiante, essas empresas sinalizam que há espaço para novos IPOs, em especial de empresas da área de saúde e de tecnologia. “São setores muito resilientes”, afirma uma fonte que tem uma empresa na qual investe na fila para abrir o capital na B3.

Algumas das aberturas de capital dessa nova safra tech estão se saindo bem em sua aventura na bolsa. A Méliuz, que abriu a fila, está se valorizando quase 200% desde novembro. O Enjoei, que veio a seguir, avança 22,5%. O Mosaico, dono dos sites Buscapé, Bondfaro e Zoom, observou suas ações subirem 97% no primeiro dia de negociação na B3, em fevereiro deste ano. Hoje, sobe “apenas” 6,7%. “Antes, o mercado estava aquecido para esses ativos. Agora está morno”, diz Carlos Moreno, vice-presidente da gestora de venture capital Confrapar, que tem duas empresas na fila dos IPOs: a Unicoba e a Ubook.

As condições para ofertas de ações de empresas de menor porte e com captação na faixa de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão, o sweet spot de uma grande parcela de empresas que está na fila da B3, ficou também mais difícil. Explica-se: ao mesmo tempo em que buscam reduzir o risco, os investidores optam por ações mais líquidas. Essa é uma das razões pelas quais o IPO da LG Informática não saiu. “Os investidores estão mais avessos a transações de tamanho menor”, afirmou uma fonte próxima a empresa.

O que explica a seletividade dos investidores, até então entusiasmados com os IPOs da bolsa brasileira? Há quatro fatores citados como determinantes. O primeiro deles foi a substituição dos presidentes da Petrobras, Roberto Castello Branco, e do Banco do Brasil, André Brandão, movimento interpretado por investidores como interferência estatal na gestão dessas companhias.

Outro motivo foi a anulação do julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse caso, sob a ótica dos investidores, teve dois reflexos: o primeiro deles é o da insegurança jurídica; e o segundo, antecipa demais a disputa eleitoral, que devia acontecer apenas em 2022. O início do aumento das taxas de juros pelo Banco Central no Brasil, que passou de 2% para 2,75%, teve também impacto. Os juros de longo prazo subiram para entre 6% e 8%. Isso diminuiu o ímpeto de se investir na bolsa.

Por fim, a segunda onda da pandemia, que está em patamares recordes – na terça-feira, 6 de abril, as mortes atingiram 4.195 em 24 horas, segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) – completa essa tempestade perfeita que está afugentando os investidores da bolsa. “O que acontece agora é que com o cenário de volatilidade e a pandemia com mais força, o mercado fica mais restrito”, afirma Pedro Mesquita, sócio e head do banco de investimento da XP. “Ele acaba escolhendo as ofertas.”

Mesquita, no entanto, tem uma visão otimista de como deve evoluir esse quadro. Ele acredita que a aceleração da vacinação deve trazer um cenário benigno no segundo semestre de 2021, com a retomada da economia e da agenda de reformas. Por conta disso, o executivo mantém uma estimativa que deve acontecer 100 ofertas entre IPOs e follow ons, que podem captar entre R$ 150 bilhões e R$ 200 bilhões. Em 2020, foi movimentado R$ 110 bilhões.

No ano passado, a janela dos IPOs fechou de março a junho, quando a pandemia do coronavírus chegou ao Brasil com mais força e as incertezas econômicas fizeram todos acionarem o modo de sobrevivência. Mas quando foi possível enxergar um pouco mais, as aberturas de capital voltaram com força. De julho a dezembro, foram mais de 40 operações que captaram R$ 81 bilhões, 71% de tudo o que foi movimentado em 2020. Tudo que se fecha, um dia volta a se abrir. Mas será que, dessa vez, vai demorar ou será rápido?

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