Nesta coluna, Priscila Schmidt, especialista em comunicação para alta liderança, argumenta que investir na comunicação não só beneficia o indivíduo — mas também o transforma em um agente de mudança na vida daqueles ao seu redor. Confira!

Priscila Schmidt, Colunista

À medida que fazemos a contagem regressiva que marca o início de um novo ano, muitos de nós nos encontramos em um estado de reflexão e aspiração.

É a época de traçar resoluções – objetivos pessoais e profissionais que desejamos alcançar.
Enquanto as metas comuns como melhorar a saúde, abandonar vícios, adotar novos hábitos ou aprender uma nova habilidade frequentemente encabeçam nossas listas, há uma área fundamental que merece nossa atenção mas que raramente vemos em uma destas listas de metas para o novo ano: a comunicação.

Não estou me referindo apenas a falar melhor, mas a comunicar melhor. Essa habilidade, muitas vezes negligenciada, pode ser um caminho transformador para muitos aspectos de nossas vidas.
O início de um novo ano simboliza um novo começo, mas não significa uma tela em branco pronta para ser pintada com nossas experiências e aprendizados novos.

Naturalmente, aspiramos a ser melhores do que antes – seja melhorando habilidades específicas ou transformando nosso comportamento de maneira mais ampla.

Mas a mudança é um desafio; ela não ocorre da noite para o dia pois não abandonamos tudo que somos e que fizemos por que o ano mudou. Nós somos um acúmulo de tudo que já vivemos até aqui e que não pode ser apagado.

Começamos um novo capítulo mas o livro que escrevemos ainda é o mesmo. Por isso, acredito que para mudar, não podemos olhar apenas para frente, precisamos também, olhar para trás e identificar, elaborar e nomear o que fomos e fizemos até aqui.

Se você não for capaz de compreender o seu passado, estará fadado a repeti-lo. Só podemos manipular (e não quero dizer “influenciar ou controlar alguém de maneira ilegítima” mas “fazer funcionar com eficácia; manejar”) aquilo sob o qual temos consciência. Por isso que o processo de transformação, exige antes, um processo de tomada de consciência.

Este processo pode ser desafiador e até mesmo doloroso. Olhar para si, não é fácil.
Tomar consciência sobre si, envolve reconhecer a sua luz mas também a sua sombra, suas qualidades e seus defeitos.

É, na verdade, olhar para o desconhecido, para aquilo que nem nós sabemos sobre nós. Respirar fundo e caminhar até a escuridão, para poder iluminá-la.
E nós sabemos, o desconhecido apavora e pode nos paralisar, nos petrificar.

COMUNICAÇÃO É COMPORTAMENTO
A comunicação é construção de significados. Emitimos sinais que o outro recebe, decodifica – a partir do seu conhecimento empírico, do seu repertório e dos seus vieses – e interpreta, ou seja, atribui um significado para o que foi comunicado.

Comunicação é muito mais do que falar, por que o outro está recebendo, decodificando e interpretando todo nosso comportamento. Nosso comportamento comunica, afinal, comunicamos mesmo quando não temos a intenção de comunicar.

Comunicamos quando ficamos em silêncio, comunicamos quando entramos ou quando saímos, comunicamos pela forma como ouvimos, como olhamos, como nos portamos, como nos expressamos, como reagimos aos outros, como compartilhamos nossas ideias e sentimentos – tudo isso é um reflexo de quem somos e de quem aspiramos ser. É a boa e velha máxima: tudo comunica.

No teatro, por exemplo, dizemos que trabalho do ator não é decorar o texto que está escrito em uma folha de papel mas criar e preencher todos os espaços em branco daquela folha. Seu movimento, sua postura, seu olhar, as ações, o ritmo, a respiração, isso que faz cada interpretação única.

Da mesma forma, na vida cotidiana, a forma como nos comunicamos pode moldar nossas relações, influenciar nossas percepções e definir o curso de nossas interações. A autenticidade e a consciência em nossa comunicação são cruciais para construir conexões verdadeiras e significativas.

A comunicação é, portanto, um mapa para nós de quem nós somos. Por isso eu defendo que desenvolver a sua comunicação é desenvolver a si mesmo em muitas camadas. Por que olhar para sua comunicação com método, disciplina e orientação profissional vai implicar em um profundo processo de autoconhecimento.

QUAL É A CHAVE-MESTRA APRA AUTOCONHECIMENTO E AUTOGESTÃO?
Muito mais do que saber que “braços cruzados significa que você está fechado para o diálogo” ou que “você deve sorrir quando faz uma apresentação” (o que, confesso, para mim são reduções extremamente simplistas do comportamento humano que desconsideram a tríade que compõe toda interação humana: o eu, o outro e o contexto), é saber por que você escolher cruzar os braços, por que você não sorri ou por que você agudiza a voz ao falar, o que isso revela sobre você?

Isso sim vai fazer com que o processo de masterização da sua comunicação seja um processo transformador, de muito desenvolvimento pessoal, aprimoramento da sua inteligência emocional, e não apenas um processo de pasteurização e artificialização da sua comunicação. Entender o ‘porque’ por trás de nossas escolhas comunicativas nos oferece uma oportunidade para crescer, adaptar e interagir de maneiras mais autênticas e eficazes.

Ao compreender e gerenciar a maneira como nos comunicamos, ganhamos insights valiosos sobre nossos próprios pensamentos e emoções e como eles impactam àqueles ao nosso redor. Isso se traduz em melhor liderança, colaboração mais eficaz e relacionamentos pessoais mais fortes. A comunicação é a ferramenta que nos permite não apenas expressar, mas também resolver conflitos, construir entendimento e fomentar conexões profundas e duradouras.

POR QUE IMPORTA?
Portanto, caro leitor e cara leitora, eu sugiro fortemente que aprimorar suas habilidades de comunicação é uma das resoluções de Ano Novo mais poderosas e transformadoras que você pode fazer.

Ela não é apenas uma tarefa a ser marcada na lista de objetivos do ano; é uma jornada excitante de autodescoberta e conexão humana. Ao escolher investir em sua comunicação, você abre as portas para um mundo de mudanças positivas – não apenas para si mesmo, mas também se torna um agente de transformação na vida daqueles ao seu redor.

Então, neste novo ano, eu te convido a dar esse passo. Permita-se explorar o poder transformador da comunicação e veja as incríveis mudanças que ela pode trazer para sua vida e o mundo ao seu redor. Sócrates já dizia “conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses”.