Como a guerra Rússia x Ucrânia atinge a economia brasileira
Por Márcio Padrão | Editado por Claudio Yuge
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, deu início a uma guerra contra a Ucrânia ao atacar militarmente o Donbass, área de maioria russa étnica no leste do país vizinho, nesta quinta-feira (24). A crise entre os dois países deve impactar a economia mundial nos próximos dias, semanas ou meses, enquanto o conflito durar. O Brasil poderá se beneficiar em algumas áreas comerciais como alternativa à indústria russa, mas também sentirá revezes.
Um dos principais fatores econômicos da crise é que a Rússia é um dos principais fornecedores de petróleo do mundo, capaz de produzir mais de 10 milhões de barris da matéria-prima por dia. Portanto, naturalmente veio um expressivo aumento nos preços desta commodity, com o barril do Brent (classificação de petróleo cru), que nesta quinta-feira ficou acima de US$ 105 dólares pela primeira vez desde 2014.
Além do preço (ainda) mais alto na gasolina e afins, o brasileiro poderá sentir ainda escassez de combustível se o conflito se alongar. E nosso país produz em torno de 3 milhões de barris diários, menos de um terço da capacidade russa.
Inflação e a guerra
Com as sanções econômicas que os Estados Unidos e a Europa devem aplicar à Rússia, haverá preços mais elevados tanto para o petróleo quanto a outros produtos exportados pelo país de Putin. No Brasil, isso deve significar alta nos preços do petróleo e seus derivados, além de um aumento na inflação.
O Banco Central aumentou em 1,5 ponto percentual a taxa básica de juros (Selic) há três semanas, na primeira reunião de 2022 do Comitê de Política Monetária (Copom), indo de 9,25% ao ano para 10,75%. Na mesma ocasião, sugeriu que uma possível reversão do aumento nos preços das commodities internacionais poderia ajudar a recuar a inflação brasileira. Mas com a guerra Rússia x Ucrânia sendo uma realidade, essa hipótese perde força.
Comércio internacional, agropecuária e a guerra
Juntas, Ucrânia e Rússia exportam quase um terço do total de trigo no mundo (28%) e um quinto da produção de milho (18%). Além disso, o Brasil comprou 41,1 milhões de toneladas de fertilizantes da Rússia em 2021, segundo o banco holandês Rabobank. Isso corresponde a 25% do volume total importado pelo nosso país.
O banco Itaú BBA espera uma redução de 19% nas exportações mundiais de milho como consequência do conflito, a depender das circunstâncias. Já a maior parte do trigo que o brasileiro come vem da Argentina (85%), enquanto Rússia e Ucrânia só exportam para cá 2%, mas a interrupção deste fluxo pode encarecer os produtos, mesmo que dificilmente resulte em escassez do produto por aqui.
As sanções das grandes porências também podem impedir que o Brasil atue como intermediário de navios e embarcações russas na América do Sul. Em resumo, parte da cadeia da agricultura brasileira poderá sentir, por enquanto, um discreto impacto da guerra. Com isso, deve repassar os prejuízos para o consumidor a médio ou longo prazo. Em compensação, grandes produtores de insumos agrícolas como o Brasil podem se beneficiar do momento e ampliar suas exportações para países que dependiam mais do Leste Europeu.
Dólar e a guerra
O dólar estava registrando dias seguidos de baixa nos dias pré-guerra, mas nesta quinta-feira, teve a maior alta percentual diária em mais de cinco meses. Ssubiu 2,03%, fechando a R$ 5,10 na venda. No pico do dia, a moeda foi a 3,23%, precificada em R$ 5,165. Na véspera, a cotação estava em R$ 4,99.
Conflitos geopolíticos são grandes fatores de incerteza na economia mundial, e países emergentes como o Brasil sentem mais o impacto da flutuação do câmbio. E um dos indicadores do preço do dólar são justamente as alterações nas commodities como o petróleo, que por sua vez está com a produção ameaçada na Rússia.
Fonte: Infomoney, BBC, Reuters (via UOL)